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  • Foto do escritorKarla Fabiana Benthien Potier - Psicóloga

Você vive em busca de reconhecimento?

Atualizado: 24 de jun. de 2020


Você está sempre preocupado se vão te julgar? Precisa estar sempre em evidência ,se não acha que perdeu o valor? Você joga fora o que você é, para viver a expectativa que o outro tem sobre você?


Na maioria das culturas, gerações viveram por séculos, numa verticalidade de relações sociais, sendo a função de suas vidas servir a uma hierarquia e pertencer a uma coletividade como forma de segurança. Essa função surgiu naturalmente, desde a constituição de uma comunidade animal, onde para sobreviver era necessário pertencer a um grupo maior, cada qual com suas tarefas. Certamente que a hierarquia e a pertença até hoje tem suas funções regulatórias e organizadoras de um sistema social, familiar, organizacional.

No entanto para o ser humano esse processo parece ser bem mais complexo, pois é dotado de subjetividades, as quais o fazem perceber que para pertencer é necessário ser reconhecido e para ser reconhecido é necessário aceitar estar sob os valores de uma sociedade vigente, de outro que não ele mesmo, muitas vezes deixando de lado a sua singularidade, sua autenticidade e seu amor próprio. A sociedade atual guiada pela mídia consumista e formadora de opinião, dita muito além da necessidade de pertencer a comunidade por meio de valores humanos de evolução, dita padrões de aparência física, beleza, poder, status e mensura o ser reconhecido por quantidade de "likes" ou "seguidores" em redes sociais. Eis aí onde mora o perigo da perda de identidade autentica.

Desde a infância o ser humano está ligado ao senso de segurança e a busca de admiração, validação, reconhecimento pelo ser amado (mãe, pai, irmãos, amigos, professores) e assim sentir-se pertencente. Porém a educação baseada em recompensas e punições, fez com que as crianças fizessem apenas para receber elogios dos outros, com base nos valores morais do outro e não em ajudar a reconhecer seus próprios valores. Na vida, ao crescer, cada um alcançará tal objetivo de uma forma diferente, seja sendo o bom filho ou o rebelde que da mesma forma recebe atenção; mesmo que negativa seria melhor do que nenhuma. Mas inúmeras pessoas não tiveram essas necessidades satisfeitas na infância e passam a vida buscando por essa satisfação, tendo todo um sistema social reforçador do ter que fazer ou ser para o outro.

Ainda hoje a educação, como um grande outro, visa a disciplina, o bom comportamento, a produção, por meio de resultados acadêmicos e da competitividade, onde a recompensa é reconhecimento por conhecimento adquirido e não por valores manifestados.

A religião durante séculos esteve voltada a obediência a Deus ou deuses com a finalidade de servos não serem castigados, ou terem uma recompensa divina ou entrarem no reino dos céus. A pouco tempo essas noções vem sendo substituídas pela não vantagem a si mesmo, mas pela cooperação e evolução da espiritualidade.

A visão de carreira empresarial enfatizou durante décadas o vestir a camisa da empresa, e valor humano pelo poder adquirido, pela função hierárquica recebida. Colaboradores buscaram destacar-se ou competir pelo reconhecimento, estiveram a espera de validação de seu valor pelo reconhecimento de seus superiores sobre a sua produtividade, para serem considerados suficientemente bons. Vivemos durante séculos numa cultura ligada a visão do sistema sobre si e sobre sua produtividade e funcionalidade.

Nessa lógica cultural e social de pertencimento, de fazer para o outro, de dar para receber, de recompensa e punição pouco foi ensinado ou vivenciado sobre a horizontalidade das relações.

Na sociedade em que vivemos o senso de pertencer, parece ter esquecido as noções de fazer e ser parte de uma comunidade como contribuidor da evoluçao do caráter. Apesar das relações já serem mais holísticas, espontâneas e existirem subgrupos; inúmeras comunidades com suas próprias identidades; ainda as relações interpessoais estão relacionadas ao fazer para ganhar crédito, visibilidade, aprovação, status, gratificação imediata e recompensa.

A necessidade de reconhecimento ultrapassou os limites de pertencer a uma comunidade, visou a competitividade egoica para obter reconhecimento de si mesmo. Para se destacar mais do que o outro, ao invés de saber para si para contribuir com o outro. Houve a fragmentação do ser pessoa onde os próprios desejos, vontades, valores, virtudes foram perdendo a autenticidade e sendo forjados para atender demandas de outras pessoas, em troca de amor, de validação, de ser notado, ou de ser o melhor. Muitos abrem mão de si para provar coisas aos outros. Deixam de comunicar ou expressar que sentem e pensam por medo de não serem aprovados ou admirados em sua própria essência. Tudo para evitar sentir-se rejeitado, rotulado como inábil ou incapaz. Assim quem rege suas vidas são os outros e não si mesmo, justificados por um passado de não satisfação das necessidades básicas.

Mas um novo mundo parece estar abrindo para uma nova visão de constituição do ser humano. Uma visão de horizontalidade, de conhecer a si mesmo, sem no entanto ficar autocentrado. Vem surgindo uma noção do trabalho e da ação como servir e não como um produto em si, vem ganhando cada vez mais espaço, nesse novo mundo que vem se constituindo.

Nas relações horizontais a função maior da pessoa, não é fazer para o reconhecimento e a pertença, mas primeiro ser, e então contribuir, colaborar como parte de um todo maior do que as individualidades, como parte de uma comunidade. A horizontalidade nas relações não visa o desmoronamento da hierarquia ou da ordem, mas valida o senso de valor humano, de coletividade, de cooperação, de respeito, sem a finalidade de ser admirado, reconhecido, ou ser o melhor. Nesse tipo de relação, horizontal, não se foca nas necessidades do ego, ou de atendimento ao desejo dos outros sobre si, mas às necessidades de um grupo, do todo, do meio e o reconhecimento poderá ser uma mera consequência que virá naturalmente. Nessa relação faz-se a sua parte sem intenções subliminares de conquistar a simpatia, ganhar um cliente, alcançar um objetivo financeiro, obter recompensas, reconhecimento financeiro, ou de status mas faz–se em prol de prestar-se a ser o que se é, fazer e servir aquilo que tem de melhor sem necessidade de recíproca, sem esperar que o outro faça em troca, cobrando-o.

Para tanto é preciso amadurecimento e coragem para se olhar. Deixar de ser a criança que faz em busca da aprovação ou do reconhecimento infantil dos pais, como único meio de se sentir pertencente ou de valor. Acolher sua criança interior e dizer: agora eu cuido de você, seja o que você tem de mais belo eu como adulto te reconheço. Ninguém te de deve nada. O mundo não te deve, seus pais não te devem, teus filhos não te devem nem a vida, nem o amor que você deu, nem a escola que você pagou. Você fez por sua função, vontade ou senso de convivência . Saia da postura de mendigar amor, reconhecimento, admiração.

É preciso buscar o autoconhecimento, ter noção do seu “self”, sua essência, seu valor próprio, investigar quem se é, o que se quer realmente e para que. É necessário parar de buscar desculpas no passado e optar por mudança e determinação se assim quiser ser livre.

No livro “ A coragem de não agradar”, os filósofos Ichiro Kishmi e Fimtaki Koga, baseando-se na teleologia do psicólogo Adolf Adler, apresentam uma nova forma de viver a vida. Para eles o autoconhecimento não está ligado a causa e efeito, na etiologia, ou na origem determinista dos problemas, a qual relaciona os traumas nas fases de desenvolvimento biológico às estruturas de personalidade, aos traços de caráter e sintomas que permanecerão para sempre. Certamente essas origens tem base neurococientífica, no entanto pode não ser útil aqueles que tendem a vitimizar-se frente ao passado, justificar suas desgraças pela rejeição, abandono, humilhação, não reconhecimento ou exclusão sofridos num contexto familiar ou social. Ainda hoje muito se explica sobre origens, causas, de onde vem, mas pouco se fala do que fazer com isso que se tornou, e como fazer.

Para a teleologia, ou psicologia individual, é necessário mudar a si mesmo e não aos outros. Adler afirma que nenhuma experiência é, em si, a causa de nosso sucesso ou fracasso. Somos nós que determinamos a nossa vida de acordo com o sentido que damos as experiências passadas. Nós não sofremos do choque de nossas experiências – o chamado trauma - mas, o transformamos em algo que atenda nossos próprios propósitos. A influência do trauma pode ser forte, mas o importante é que nada é determinado de fato por essas influências. Elas podem ser fortes, mas a escolha é você quem faz. Muitas vezes o propósito de uma pessoa que evita o contato social por exemplo, é evitar a rejeição que lhe dói mais que o próprio estar sozinho.

A necessidade de reconhecimento muitas vezes bloqueia fazer as próprias escolhas do que é melhor para si, ser solteiro ou casado, ter essa ou aquela profissão, cortar ou não o cabelo, ir ou não a tal lugar . Esconde a falta de coragem de ousar seguir em frente e errar, esconde a vergonha de talvez não dar certo na primeira vez, oculta a autenticidade.

Assim sintomas físicos muitas vezes podem vir a ser escolhidos pelo próprio indivíduo com o propósito de se limitar, para que não precise encarar uma situação difícil ou para ter alguém que o cuide com a finalidade de não se sentir abandonado. Não encontrar um emprego pode ser uma escolha e servir para a pessoa manter-se na dependência financeira de terceiros. Naã fazer um concurso, pode esconder o medo da rejeição por não aprovação. A escolha de justificar uma situação econômica e se manter na vitimização e culpabilização pode ter o propósito de se esconder de sua dificuldade de esforço, de determinação e de coragem ou o medo de tentar. Decidir manter-se na casa dos pais após certa idade, pode estar em função do medo de encarar sua individuação e responsabilidade de uma nova fase de vida. Carregar a "empresa da família" nas costas, sem assim desejar, pode servir ao pensamento de "assim é mais seguro para eu adquirir a admiração de meu pai, melhor eu não me arriscar aos meus sonhos e ideias de vida, pois podem não dar certo e serei criticado". Não consertar o relacionamento com meu pai ou mãe, serve como desculpa para o fato de minha vida não andar bem. Escolher o uso de drogas, o suicídio, a automutilação pode servir como vingança ao autoritarismo e a não valorização dos pais, assim envergonhando-os e culpando-os por sua dor de viver. "Assim me vingo dele sendo um fracassado". Manter-se numa relação destrutiva, para esconder o desespero de sentir abandono, mas também a falta de coragem experienciar o próprio eu no mundo. A explosão de emoções como raiva, pode servir a um fim de ser finalmente notado. Escolher criticar e procurar defeitos no seu chefe, talvez sirva ao propósito de justificar o fato de que você não quer expor seu ponto de vista e correr o risco de ser rejeitado, ou porque se queixando do outro evita ver seus próprios erros e incapacidades ou talvez tenha que produzir mais. Escolher aceitar responsabilidades que não lhe cabem, se sobrecarregar de tarefas que não lhe pertencem, como cuidar de todos os da família para agradar e esconder a responsabilidade de suas próprias escolhas de vida.

Assim a questão não é o que acontece, e de onde veio, mas a que esta situação serve para você e como você a resolve.

A questão também não é ser egoísta, ou pensar apenas em si mesmo, inclinar-se a seus desejos e escravizar-se a seus próprios impulsos à vontade, mandando os outros "ao inferno" ou "não to nem aí" mas fazer suas escolhas baseado em quem você é ou quer se tornar. Como já dizia Adler “ O importante não é aquilo com que nascemos, mas o que fazemos desse equipamento"


O que é necessário desenvolver para não precisar do reconhecimento do outro para viver?

De acordo com “A coragem de não agradar" - Ichiro Kishmi e Fimtaki Koga, segue algumas dicas para você viver melhor sua vida:

  • Tenha CORAGEM e DETERMINAÇÃO para descobrir e conhecer quem você é de verdade, aceitar suas características próprias e limitações. Conheça seu papel no mundo. É necessário parar de buscar reconhecimento do outro e busque mais aceitação de si. Viver no aqui e agora, não no passado e nem no presente. "O destino não é feito pela lenda e sim pela espada."

Seja autêntico. Não vincule seu valor ou justifique seus problemas pelo passado, ou pelo senso de valores da outra pessoa, selecione o que serve para você. Respeite a sua própria história. Faa suas próprias escolhas e assuma as consequências.

  • Você é o único que pode mudar a si mesmo, a qualquer momento, não importa o ambiente onde esteja. Você só se sente incapaz de mudar porque está tomando a decisão de não mudar.

  • Você não é o centro do mundo! Nem todos estão contra você, e se estiverem esse problema é deles e não seu. Permita ao outro não te reconhecer se ele não quiser. O que o outro fizer ou disser pertence e refere se a ele, ao que ele é, e não a você. Você não é responsável pelas escolhas ou atitudes opiniões dos outros, mas apenas pelas suas. Ou você vive sua vida escravizado?

  • A vida não se trata de você, mas de uma comunidade na qual você tem sua contribuição. Contribuir é ver a outra pessoa como companheiro, e não como rival ou inimigo. É ter confiança. Não se pode mudar fatos objetivos como altura por exemplo, mas a interpretação subjetiva desse fato sim.

  • A vida não se trata de uma competição, mas de uma colaboração. Quando você vive da competitividade, a luta pelo poder te impede de ser livre, te escraviza aos valores e desejos do outro.

  • O valor está em tentar evoluir com base no que somos agora, o parâmetro somos nós mesmos e não o outro, o passado ou o amanhã. Viva o hoje, dance o hoje! Faça o seu melhor a cada dia.

  • Admitir o erro não é derrota, não te faz mais fraco, te expande a mente. Se desapegue de seus complexos de inferioridade ou de superioridade.

  • Não viva para satisfazer as expectativas dos outros, isso pode ser frustrante. Mas primeiro você precisa identificar as suas e lutar pelo que quer sem se justificar.

  • Não seja o elogiador, que elogia em busca de ser gostado e aceito, seja o encorajador que observa e auxilia no processo de desenvolvimento da outra pessoa. Bajulação, elogios podem ser considerados como julgamentos de valor com base nos referenciais pessoais da pessoa que te elogia e não nos seus. Se você age para recebe-los os seus próprios valores estão pautados na vida do outro? Ou você elogia para conseguir o que quer, como uma forma de manipulação?

  • Seja grato. Elogiar é manipulação para você ganhar simpatia, gratidão é você validar e mostrar o valor do outro, reconhecer a colaboração dele e o que ele tem de prestatividade e virtude maior.

  • Separe as tarefas, problemas, deveres e direitos que são seus e os que são das outras pessoa. Não queira resolver o que é tarefa de vida da outra pessoa. A forma como a pessoa reage às suas expectativas é tarefa dela e nao sua.

  • Não existe garantia nas relações, a confiança deve ser gratuita, e cada um oferece o que é capaz de dar conforme o que é.

O livro os sete hábitos das pessoas altamente eficazes, de Stephen Covey, também

lembra muito as ideias de Adler.

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