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  • Foto do escritorKarla Fabiana Benthien Potier - Psicóloga

Traços de caráter - A chave do autoconhecimento

Atualizado: 11 de jun. de 2020



Os traços de caráter e o enfrentamento da crise pandêmica da COVID 19

O ser humano é constituído a partir de sua genética, a qual é responsável pela bagagem de informações trazidas de seu ancestrais, relacionadas ao funcionamento orgânico, incluindo traços físicos, temperamentais e emocionais. Também é formado pelas suas experiências no meio em que vive, capazes de causar alterações genéticas, as quais poderão ser transmitidas para outras gerações, chamadas de epigenética. Esse conjunto de fatores constituirá a sua estrutura intrapsíquica e personalidade, norteando sua mente, traços de caráter, esquemas cognitivos, programação mental, modo de enfrentamento e consequentemente sua subjetividade, e sua leitura de mundo, tornando-o um sujeito responsável por suas escolhas, num desenvolvimento típico.

A atribuição particular de suas vivências e relações é que caracterizarão seu mundo externo como confortável, desconfortável, coerente, incoerente, seguro, inseguro ou ameaçador e ativarão suas emoções e pensamentos.

De acordo com a abordagem analítica corporal bioenergética, baseada nos estudos científicos de Alexander Lowen e William Reich, esse mundo interno ou intrapsíquico, é formado principalmente desde o mundo intrauterino até o início da pré-adolescência, por meio da formação do corpo físico, sendo possível o corpo explicar a mente de uma pessoa.

Essa abordagem tem respaldo cientifico na explicação da mielinização medular e das camadas celulares neurais que ocorrem em cada nível desse desenvolvimento biofisiológico, sendo essa responsável pela formação do endoderma, mesoderma e ectoderma, as quais terão impacto na distribuição da energia celular e consequentemente na formação corporal e nos traços de caráter de uma pessoa.

Grosso modo, marcadores somáticos se apropriarão das formas adaptativas encontradas por aquele corpo para sobreviver àquele meio, formatando essa forma de agir ou reagir aos estímulos similares, para toda a vida.

Assim conforme a qualidade de cada fase de mielinização se formará um corpo físico e psíquico com diferentes características e necessidades distintas em cada um , as quais determinarão como a pessoa irá perceber e lidar com o mundo em que vive: por meio do sentir, do agir ou do pensar. Tais características serão chamadas de traços de caráter.

Traço de caráter, segundo William Reich, é um modo intrínseco de responder ao mundo extrínseco. Modo que está estabelecido, congelado ou estruturado na personalidade de um ser humano desde sua formação intrauterina, a partir da mielinização da medula – sistema nervoso, resultando no formato do corpo e paralelamente em traços de caráter para dar conta desse corpo reagir e sobreviver ao meio. “O corpo estabelece o espaço interno, ao mesmo tempo que funciona como elemento de comunicação com o espaço externo. O corpo é limite do indivíduo e fronteira do meio. O corpo revela em todas as suas manifestações: através da postura, gestos, tônus musculares, atitudes de interação, domínio do seu espaço, fala, formando o caráter do indivíduo, explicitando simbolicamente sua existência”.

Cada traço terá características próprias, ou mecanismos de defesa, enfrentamento e defesas baseadas nas necessidades que ficaram em “aberto” em cada fase de suas vidas , de seus tramas ou dores. Terá forças e fraquezas, tipos de medo ou dor psíquica diferente conforme a fixação, falta ou excesso marcante em uma das fases de desenvolvimento ( fase oral, anal, latência ou da sexualidade). O formato mais evidente do corpo, poderá revelar, em qual dessas fases houve o "trauma", qual a dor e o seu recurso correspondente.

Conforme a predominância do traço de caráter , pode predominar na vida da pessoa ao crescer, um ou mais medos: de abandono, da humilhação, de não reconhecimento, não pertencimento, admiração ou fracasso. Sendo a partir da sensibilidade a esses medos, o seu enfrentamento aos acontecimentos difíceis de sua vida. (O que for fraqueza poderá ser trabalhado e reconstituído em processo de análise ou terapia.)

Os traços de caráter podem ser combinados entre sim, entrando em conflito ou ajudando-se um ao outro, mas a tendência é que sempre um deles predomine, porém também depende dos acontecimentos do contexto externo. Ora um pode se destacar, ora outro.


Fases do desenvolvimento e os traços de caráter

Fase Intrauterina


No mundo intrauterino, o feto por meio das capacidades sensoriais entrará em contato com as condições físicas e hormonais desse ambiente materno passando a trazer essas informações existenciais nos seus traços corporais ao nascer. Por exemplo, se a mãe passou por momento de estresse, tensão, depressão, ansiedade, como na omissão ou negação da gravidez, é possível que haja uma alteração hormonal, menos irrigação sanguínea nesse útero fazendo com que a musculatura do mesmo se contraia, endurecendo-a e ainda com que o feto libere excesso de hormônios protetores ao seu sistema nervoso como forma de proteção para seu desenvolvimento.

Assim o feto como forma de adaptação também poderá formar uma musculatura mais rígida e densa, uma vez que poderá não encontrar a flexibilidade muscular do útero para expandir-se, ganhar peso e formas musculares. Assim suas características corporais serão: Cabeça ligeiramente inclinada e maior do que o corpo, fora da linha central de fluxo energético do corpo; corpo duro; imobilidade da escápula; imobilidade pélvica; pés fracos, especialmente o arco metatársico; articulações duras com pontas nos ombros e quadril; magreza, com impressão geral de desengonçado.

As características físicas influenciarão no desenvolvimento dos caracteres emocionais e por assim dizer, os traços de caráter. Por ter menos espaço físico para desenvolver-se corporalmente, é possível que a mielinização se dê com maior facilidade na área cerebral, podendo esse vir a desenvolver mais os requisitos racionais do que sensoriais, assim podendo vir a ter menos mobilidade corporal motora e executora ao nascer e mais habilidade intelectual, destacando-se por sua criatividade, mundo imaginário, visão inovadora. Pode vir a racionalizar fatos ao invés de envolver-se sentimentalmente com os mesmos. A necessidade de isolamento social, afastamento, e pouca expansividade ou expressividade de sentimentos para não incomodar o ambiente, serão em razão de uma comunicação muito mais lógica, devido ao medo de existir e sentir rejeição. O perfeccionismo também virá como forma de evitar possíveis rejeições do meio. Podendo a rejeição externa ser uma de suas principais fraquezas. Esses traços de caráter serão nomeados como Traço Esquizoide.


Fase Oral


Quando nasce, até aproximadamente 3 anos, para se desenvolver saudavelmente o bebê precisará ter a satisfação das suas necessidades básicas para sobrevivência atendidas, como alimentação, saúde, segurança e afeto, pelas quais a mãe como seu primeiro contato será responsável. Mais tarde o desenvolvimento neural será ampliado a partir da exploração do meio pelas suas vias sensoriais e concretas, sentir quente, frio, engatinhar e reagirá instintivamente, porém com o auxílio da mãe. A essas fases de dependência materna, onde precisa receber e ter suas necessidades fisiológicas atendidas para sobreviver, se chama oralidade. Na qual a qualidade da dinâmica da criança com a mãe lhe conferirá traços físicos e de caráter.

No caso do excesso de satisfação de necessidades, porém que não sejam as que o bebê precisa, mas as que a mãe acha que deve ser, por exemplo chora e a mãe acha que é fome e lhe dá muito alimento, ou é fome e lhe dá a chupeta, confundindo as satisfações das necessidades.

Os traços físicos poderão ser de excesso e de arredondamento do corpo, ou no caso da falta, de magreza, como se a energia estivesse escorrendo. Ainda, peso do corpo sobre os calcanhares; costas encurvadas; ombros caídos, cabeça jogada para frente; peito retraído como havendo um buraco, pernas e joelhos contraídos e subcarregados; impressão geral de fraco e precisando de apoio.

Os corpos se apresentam assim pois carregam uma falta, um vazio, uma sensação de abandono, de não segurança. Emocionalmente as sensações e experiências de falta ou excesso desnecessário nesse período poderão causar traumas específicos relacionados a predominância do sentir, das emoções, do vazio, da insatisfação e do medo de abandono quando for adulto. Podem vir a crescer com alta sensibilidade e necessidade de afeto e buscando segurança nos contatos para suprimir seus vazios. Serão pessoas emotivas, de choro fácil, querendo um “ouvido” que as escutem para que elas possam falar, e geralmente vão falar muito, ou precisando de comida por perto, para que possam preencher esse vazio comendo em demasia. Algumas terão a facilidade de engordar muito e outras não, porém sempre com a sensação de vazio. Tenderão a ser pessoas carismáticas, com necessidade de agradar e ser gostada por medo de ser abandonada; tendendo a ser solicita demais, altruísta, empata, pois caso não corresponda ao que imagina que o outro lhe delegue ou deseje poderá ser abandonada e retornar ao vazio e a insegurança existenciais. Essas características são reconhecidas como Traço de Caráter Oral.

Fase Anal


Ao começar a andar, até mais ou menos 3 anos, a criança terá o progresso da mielinização do sistema nervoso mesodérmico, o qual será responsável pelas funções musculares. Dará os próprios passos para a vida, podendo controlando seu corpo, assim como os esfíncteres, assim também aprenderá a controlar suas ações e compreender os limites, as regras, os nãos. A essa fase se dá o nome de fase anal. A forma como vivenciará essa fase de autocontrole muscular e corporal e expressão de suas necessidades fisiológicas, lhe permitirá dar ou não importância ao que é fundamental dentro de si e precisa ser externa lizado ou a necessidade de controlar, reter, segurar, para não ser constrangido ou repreendido pelo meio externo, como no caso de não controlar as fezes por exemplo. Conforme as respostas do meio à expressão de suas necessidades de desenvolvimento muscular, seu traço de caráter predominante será chamado de Traço de Caráter Masoquista.

As características físicas serão corpo estruturalmente pesado, denso, sem contornos, mais quadrado, com forte desenvolvimento muscular; maior tensão nos músculos flexores,nádegas exprimidas como segurando os glúteos; costas arredondadas encurvadas para frente; pescoço curto e grosso; coxas bastante musculosas; impressão geral de atarracado, carregando um grande peso.

Assim poderá desenvolver um emocional, baseado no aguentar, suportar, controlar, não fazer feio, e não expressar o que sente por vergonha e medo de ser sofrer humilhação. Necessitará ter uma rotina estabelecida de forma a sentir-se seguro, e não errar. É pouco comunicativo; para evitar falar besteira só fala quando tem certeza, desenvolvendo mais o ouvir do que o falar, e com isso acaba aguentando demais sem se expor e ser ridicularizado. É funcional, avaliador, analítico, criterioso, corretor, cuidadoso para não cometer gafes e não vir a ser humilhado. É persistente e confiável mas precisa sentir-se seguro para estabelecer relações com outra pessoa. É desconfiado, demora para formar vínculo e partilhar seus problemas e não suporta a traição. Exige segurança para si. Entende os outros, com extrema empatia. A ponto de trazer para si o problema e o erro do outro se responsabilizando por tudo. Não divide nem delega. Como cofres, duros e robustos, guardam tudo dentro de si. Porém como nada é possível de aguentar por muito tempo sem que seja elaborado ou digerido, pode ser explosivo na dor da humilhação.

Fase Genital


Dos 3 aos 4 anos de idade, durante a mielinização do sistema nervoso responsável ectodérmico, ocorrerá o desenvolvimento da sexualidade, a qual se dá o nome de fase da genitalidade. Nessa fase, após já ter desenvolvido o sentir, falar, andar, cuidar de si e i interagir; haverá a percepção da presença da sexualidade e atração pelo sexo oposto. Futuramente o diferente lhe parecerá atraente, o qual vai querer agradar ou conquistar para ser aprovada e receber amor. No entanto, geralmente perceberá que esse primeiro adulto do sexo oposto poderá ser seu genitor, o qual terá a preferência por outro adulto, o outro genitor. Será esse outro aquele com o qual a criança tentará disputar a atenção, necessitando em sua fantasia e imaginação, competir, sobressair, ser melhor, mais amada, mais percebida, mais desejada e mais valorizada do que a suposta rival. Saudavelmente esse impasse deve existir, para que a criança possa superar essa frustração e deslocar essa pulsão para fora de seu sistema familiar e assim vir a constituir sua família e dar continuidade a vida. No entanto muitos impasses podem ocorrer se não houver uma boa passagem por essa fase. Caso haja uma fixação na necessidade de amor ou de admiração, seja pela ausência ou pelo excesso, haverá competividade e uma relação inconsciente chamada de triangulação (pai, mãe e filho (a) ). Na qual a criança não conseguiu separar-se e desenvolver sua própria individualidade e deslocar seu desejo para o sexo oposto fora de seu sistema familiar. A partir de um “trauma” na passagem dessa fase se constituirá o traço de caráter chamado Rígido ou Rigidez.


Uma vez que precisará competir, ser a melhor, para receber amor, e admiração precisará seduzir, assim o corpo aparentará muita energia, força e disposição física por todo corpo, beleza atraente, curvas nos lugares certos, com forte capital estético e músculos rígidos.

De acordo com essas características desenvolvera psiquicamente auto exigência perfeição de si, do outro e da vida, onde nada poderá ser bom o suficiente. É a figura da exigência e busca da perfeição. Vive “relações triangulares”, e será competitiva ao extremo, sempre buscando alguém um adversário à altura, ou alguém com quem possa disputar e mostrar que é melhor. Apesar de esconder as necessidades de sua criança interior com sua beleza e sedução, trará consigo a carência e o desejo de se destacar numa relação, na profissão, ser a mais importante, a melhor para sentir-se pertencente a alguém a um ambiente. Poderá conseguir o que quer por espontaneidade, por sua determinação e seu perfeccionismo.


Fase de Latência

Dos 4 aos 5 anos de idade haverá o aperfeiçoamento da mielinização neuronal da camada ectodérmica corporal, responsável pelo propósito mental e pela tomada de decisão. A criança será capaz de tomar decisões e tornar-se capaz de dar conta de suas necessidades básicas e autocuidado, e perceberá que existe um mundo além dela mesma e da mãe, e começara a perceber a existência e atuação de seu pai e de pares. Haverá a necessidade de uma relação ou inter-ação, onde aprenderá ou não a ser capaz de abrir mão de suas vontades e desejos ou de dividir o que é seu, ampliando sua forma de estar e perceber o mundo.

Formará então novos conceitos a partir da inter-relação, percebendo que será necessário agir, realizar e executar para ser reconhecida e pertencente. Se a ênfase externa, ou excessivo reforçamento pelos pais ou pares na importância do agir, a criança terá seu traço formado conforme a qualidade desse reconhecimento. Podendo então desenvolver o traço de caráter baseado no ter que fazer o melhor possível para ser reconhecida, tendo medo de não obter esse reconhecimento ou de se sentir ignorada ou de desenvolver medo de não pertencer a um meio.

Esse traço é conhecido como Traço de Caráter Psicopata (não é o mesmo que Transtorno de Personalidade Antissocial e Psicopata). Pessoas com esse traço predominante, esperam alcançar resultados, são articuladoras; a vida para elas é um “balcão de negócios” e estão sempre atentas aos lucros e ganhos. São sedutoras e manipuladoras para conseguir o que querem e tem facilidade de montar o perfil necessário para conseguir o que desejam. Tem raciocínio muito habilidoso. Podem reverter o negativo em positivo rapidamente, evitando falar sobre problemas e focando em possibilidades. Podem convencer a fazerem para ela e delegarem muito bem. Executa e é útil para obter ganhos, e vantagens. Estão atentos a barganhas, trocas, compensações.Muitas vezes se mostra feliz quando está triste, para não deixar de ser reconhecida, pois precisa ganhar importância para sentir-se bem e validada como pessoa.

Fisicamente desenvolverão o corpo triangular, maior em cima e menor embaixo, com base nesses reforços do meio, sendo suas características físicas de tensão generalizada; peito inflado para peitar o mundo; tensão pronunciada nos músculos extensores, inclinando o corpo para trás; nuca e ombros enrijecidos; queixo duro, linhas faciais retas; atitude corporal de estar em alerta; impressão geral de prontidão e agressividade.

“O corpo masculino se expande acima do peito e é delgado para baixo; formato de triângulo, desenvolvimento desproporcional entre a metade superior e a inferior; o corpo feminino tem o quadril, pernas e pélvis muito largos: peito e ombros pequenos; na metade superior do corpo, o homem é atlético; a mulher, pouco desenvolvida; impressão geral, no homem, de orgulho, raiva e, às vezes, ameaçador; na mulher, de infantilidade e meninice na parte superior, e de extrema sensualidade abaixo”.

Os traços de caráter e o enfrentamento da crise pandêmica do COVID 19


De acordo com a Analise Corporal e Traços de Carater cada pessoa reagirá ao momento de crise de acordo com seu traço de caráter predominante, formado ao longo de seu desenvolvimento, e com o tipo de medo, fraqueza ou força pertinente a esse traço. Se o traço predominante estiver na dor, na fragilidade na falta, será necessário que busque a força desse ou dos traços de caráter subjacentes e secundários que foram desenvolvidos, pois é possível que todos se desenvolvam em alguma porcentagem. Cada traço de caráter tem sua característica, a qual influencia o funcionamento do mundo intrapsíquico do indivíduo e sua ação no mundo externo.

No caso da pessoa ter vivido num meio interno (útero) ou externo (ambiente) de falta ou privações básicas à sobrevivência, como alimento, moradia, saúde, segurança, afeto), seu sistema biológico e cognitivo (pensamentos) involuntariamente foi programado, ativado e predisposto a manter-se em estado de alerta e a qualquer possibilidade que lhe remeta novamente a ameaça de sobrevivência, como forma de antecipar sua luta.

Os que tem traço predominante esquizoide, padrão baseado no pensar, talvez precise se defender da possibilidade de se mostrar vulnerável as emoções. Podem vir a respaldar seus medos na ciência, cientifizinando a dor. Costumam não expressar o que sentem para não se sentirem um incômodo ao outro e não virem a serem rejeitados então se expressam agora mais por meio verdades numéricas do que em emoções . O que não quer dizer que não as sintam. Porém seu modo de enfrenta-la pode ser pelo isolamento. Para o intelecto talvez uma justificativa plausível para se aprofundar em todas as suas ideias persecutórias ou de que o mundo é realmente perigoso e mal. E assim poder continuar embotando emoções e afetos por traz de uma razão protetora e segura. Melhor do que sentir a ambiguidade ou duplo vinculo desse mundo louco ao qual não pode pertencer. Internalizantes talvez venham a encontrar nesse momento um motivo ainda maior que justifique esconder ou suportar sua tristeza, sua melancolia, seu sofrimento, encontrando no isolamento um aliado a sua solidão. Talvez encontre na quarentena o par perfeito para sua não expressividade emocional. Para que causar mais alarde e preocupações. Enquanto isso adoece. Ou ainda quem sabe de um giro de 180 graus e a use como oportunidade de extravasar e se alie ao amigo externalizante. Aquele que encontrará na crise uma justificativa perfeita para sua cólera interior, uma justificativa para sua revolta, sua ira, sua indignação com o mundo, seu medo de existir.


Para o depressivo, com base no traço de carater de esquizoidia poderão encontrar na pandemia, um motivo justo e fiel a lamentar-se pelo mal-estar e agruras da falta de sentido de existir.

Para os de traço predominantemente oral quem passou pela privação e falta de alimentação ou nutrição física, a possibilidade de quebra da economia lhe será gatilho para o pavor da fome, lhe parecerá a pior das circunstancias, precisando escolher pela volta ao trabalho, ou a sua atividade que lhe traz sustento hoje. O que não quer dizer que não tenha medo da morte por doença ou pelo vírus, mas seu sistema enraizado de funcionamento interno lhe faz tomar as diretrizes baseada em suas experiências.

Quando a pessoa tem como traço predominante a falta ou o excesso, ou seja, o traço de oralidade como predominante, suas principais necessidades de sobrevivência estarão baseadas na segurança por meio da relação com o outro, do toque, da afeição, da presença, do abraço. Ao ser destituída desses elementos devido a necessidade de isolamento ou distanciamento social ou quarentena, diminuirão drasticamente o nível de oxitocina, dopamina e serotonina, elementos serão os principais a bem-estar, ao bem viver, ao otimismo e perseverança. Neurotransmissores que não podem ser substituídos pelas relações virtuais.

Ainda para com pessoas com predominância no traço de caráter oral as medidas preventivas de isolamento, se tornam gatilhos para memórias ou sentimentos de abandono na primeira infância, e por mais racional que a medida pareça a pessoa que tem o traço do sentir, sentirá e não raciocinará. Também podem sentir grande preocupação ou desespero se focarem e ou se fixarem no abandono, se forem muito dependentes de outra pessoa que está doente e sintam-se ameaçada com a possibilidade dessa perda. Quando muito pessimistas, ruminam, pela sensação de impotência e desamparo, rumam a uma possível depressão.

Para o deprimido, ou carente com base nos traços de vazio da oralidade, poderá haver uma razão plausível para chorar sua perda de gratificação imediata as suas necessidades de segurança, sua insatisfação, seu sentimento de abandono, falta do toque do acolhimento e do amor presencial. Talvez encontre na vitimização, lamuria e nostalgia dos velhos tempos (o qual também não viveu integralmente), uma grande parceria para sua dor de viver. Para o depressivo, oral, por mais que tente agradar, o poder é do meio sobre ele e não seu, pois sempre sente que precisa mais.

Aos que se sentem a dor da falta, da oralidade, ou se fazem de vítimas podem encontrar um mar de justificativas a seu estado de falta de ânimo, de garra, de energia, de sua dor de injustiçado pelo mundo, para continuar escondendo atrás dessa máscara a sua falta de ação, a sua espera cômoda de quem venham e resolvam pra ele, da sua falsa impotência.

Aos de traços oral pautados no excesso do ter, do receber, para se sentir de valor, como lidarão com a ausência da gratificação imediata, para ter seus desejos ou vontades atendidas, quando nem tudo está sendo produzido? Como lidarão ao não terem rapidamente o que querem? E os que dependeram sempre de ganho rápido e fácil, como tem reagido? Todo excesso esconde uma falta, será que olharão para qual seria a verdadeira falta? Não mais a comida, a roupa, os bens de consumo, talvez a saída seja olhar a falta do si mesmo, e aprender a preenche-la com o foco no que tem de bom, a comunicação, a prestatividade, o altruísmo, o doar-se tanto quanto querem receber.

Somente com o amor verdadeiro internalizado é possível suportar a ausência do contato físico e não estar perto o tempo todo dos amigos ou dos familiares. Ainda será possível, conversar, levar uma palavra de apoio e doar-se.


Como estarão agindo aqueles de traços de caráter predominantemente Psicopata- executores? No momento de crise econômica, para esses poderá predominar o medo e o desespero da verdade suas conquistas, de seu brilho, da falta de foco em si, quando tinham sua necessidade de reconhecimento atendida por meio da recompensa ou do reforço de seu trabalho de sua ação. O nesse momento de crise, não pode ser um meio para alcançar algo em prol de si mesmo, mas em benefício alheio, podem e aprender com a vida a tirar vantagens de cada oportunidade não apenas para um negócio próprio mas para um negócio que beneficie a todos. Pode buscar superar a dor de não conseguir executar seus planos traçados e projetos, focando em estratégias de solução, empreendendo em novos segmentos e setores, fazendo novos negócios, convencendo as pessoas a se engajarem em causas nobres pela vida.


Como estarão os permeiam seu valor pelo senso de pertencimento do Traço Rígido? Aquele que precisa estar em um grupo, os que não vivem sem fazer parte de algo maior, como uma reunião de família, um grupo de amigos, uma empresa, uma igreja, um clube, como satisfarão essa necessidade tão importante de ser amado? Grupos onde tinham suas necessidades de pertencimento ou de reconhecimento preenchidas por meio da ação, do trabalho, ao serem dispensados como tem lidado com isso? Dentre todos os medos e horrores para esses o maior deles é o não mais pertencer. A espécie humana precisa pertencer a um grupo de amigos, familiar, virtual, ao próprio sistema de valores. Ninguém vive sem pertencer e o desemprego detona esse valor de ser por meio do pertencer da pessoa, fazendo com que se sinta expulsa do bando, inútil, se este for por muito tempo. Porém podem nesse momento focar na importância de pertencer as suas famílias, aprender a dividir a importância, a atenção. Exigir-se menos perfeição e abrir-se a dar o seu melhor sem precisar competir. Ainda é importante que entenda que seu valor de liberdade e de escolha podem ser tolhidos por algum tempo mas em prol de um bem maior e social, devido a necessidade das medidas de segurança.


Estará tudo sob controle para os Masoquistas, que precisam de convicção, de métodos e certezas absolutas e cartesianas para sentir-se seguros, e nesse momento faltam testes suficientes para demonstrar a contagem absoluta de contagiados? E como estão se sentindo aqueles que se veem na obrigação de tudo aguentar, suportar, de segurar a emoção, para não fazer feio, de cuidar de todos? Aguentarão a pressão do imprevisível, do futuro intangível? Parece haver um desespero aos metódicos e perfeccionistas, compulsivos, e que não podem errar. Os quais não bastará lavar as mãos, usar máscaras, tirar os sapatos, tomar vários banhos, sentirão sempre culpa se a doença lhe bater à porta ou de sua família. Não foi perfeito o suficiente, será punido e castigado então!? Obediente, terá mais ordens a serem seguidas, mais protocolo a ser obedecido, mais erros a serem evitado, mais sacrifícios, por outro lado lhe conferirão um título perfeito de bom samaritano. Mas a que preço? Agora seria bom que pudesse também cuidar de si mesmo, expressando suas preocupações, suas emoções e angustias; dividir e compartilhar sua carga com colegas e amigos para que não venha a explodir ou adoecer cardiacamente por excesso de pressão arterial. Ainda é preferível a auto responsabilidade a disciplina cega. A disciplina depende do outro que orienta, não permite a pessoa a pensar. A responsabilidade o faz sentir-se parte e sujeito.


O mundo interno é muito mais forte do que o externo, pois é o que determinara a percepção, interpretação do que o mundo externo apresenta. Sendo os acontecimentos externos aleatórios ou não, são apenas o gatilho para retomada de muitas experiências vividas em fases de vida anterior e trazem repetição ou alteração de padrões de comportamento. Porém as forças precisam ser reconhecidas, resgatadas, reforçadas para trazer equilíbrio, estabilidade, segurança. Do contrário, a vulnerabilidade, o vazio, a perda de identidade, de referencial frente ao novo, ao desconhecido poderá se reverter em diferentes quadros psiquiátricos, como depressão, ansiedade, ideação suicida entre outros.


O que mais importa é olhar para isso, para esse incomodo, para essa dor, falta ou excesso que sempre esteve ali e buscar ajuda. Não foi a Covid que trouxe a dor, ele apenas desmascarou as emoções que sempre estiveram lá dentro e cada um (O medo, a tristeza, a raiva, as fragilidades, as vulnerabilidades), como defesas do ego, sempre pronto para parecer se defender e se proteger. A doença apenas veio como fator desencadeante de um traço de caráter baseado em uma história predisponente. Mas a dor sempre vem com alguma função, assim vale a oportunidade atual para uma reflexão, um mergulho em si mesmo, em seu self e a busca por transformação. Quem sabe uma nova oportunidade de olhar para quais são suas faltas reais, e o que era escondido pelos excessos ou máscaras. Os traços de carater podem te ajudar a pensar além de onde veio sua dor mas a que propósito ela veio? A partir do conhecer o que dói, é que se pode tratá-lo. Quando se conhece e se dá conta do que é que dói, é que se pode se conhecer de verdade e ir em busca de como sarar, mudar ou solucionar e melhor viver.

A crise significa em japonês, dois ideogramas, oportunidade e perigo. E a cada um cabe como significar, utilizar ou encarar essa oportunidade e esse perigo. É uma possibilidade ímpar de autoconsciência e auto responsabilidade do que se é e pode vir a ser ser.

Toda crise pode ser uma oportunidade para reprogramação de seu software interno, reinvenção de estratégias, redefinição de prioridades, de papeis, de funções de readequação de posições e de mudanças de postura frente ao EU, ao TU e ao Nós!

A crise chegou para mostrar oportunidade de buscar as forças de seu caráter, e como superar suas fraquezas, e buscar uma forma real e adulta de enfrentar a situação. Porém acordar para quem você é, requer desapego daquilo que você acha que você é!

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