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  • Foto do escritorKarla Fabiana Benthien Potier - Psicóloga

Empatia e pró-sociabilidade




Hoje vamos falar sobre Empatia!

Em situações de crise, é comum que as pessoas estejam mais tensas, resistentes a mudanças e vulneráveis. E a empatia faz muita diferença nesse momento difícil! Se você não desenvolveu essa habilidade, não se preocupe há muitas dicas para você até o final desse artigo.

Origem

Empatia vem da palavra grega Empathea, que significa paixão, ser atraído por algo do outro. Porém o uso do termo empatia como o conhecemos hoje remonta do início do século XXI, visto como fenômeno psicológico.

Definição

Parece, haver um consenso geral sobre a definição e o componente emocional dessa habilidade: todas as formas de empatia envolvem compartilhar o sentimento de outra pessoa, ser capaz de reconhecer uma emoção alheia, ou “ reconhecer uma resposta emocional que se origina do estado ou condição emocional do outro e que é congruente com o estado ou situação emocional do outro” (Eisenberg & Strayer, 1987, p. 5).

Histórico

Durante muitos séculos acreditou-se que as emoções, afetos e sentimentos estavam ligadas ao coração, e suas manifestações poderiam ser negativas, de acordo com religiosidade e filosofia. Por isso que precisavam ser dominados e controlados, sendo algo visto como inútil, prejudicial e sem adaptação.

Atualmente

A empatia tem sido considerada uma habilidade evolutivamente relevante, propagando um senso de pertença, proteção e coletividade necessários a força grupal e a perpetuação do senso de coletividade, sendo essencial para a manutenção das comunidades humanas. Vários estudos sugerem que, quando, literalmente, sentimos a dor, o sofrimento, a aflição de outra pessoa, tornando-se o empata mais motivados a agir pró-socialmente de modo a reduzir esses sentimentos negativos em si mesmo e no outro. Pró sociabilidade é definida por Eisenberg (1982,1992) como ações e/ou julgamentos voluntários que visem consequências positivas, tendo como motivação básica beneficiar o outro, sem influências ou pressões externas.

Benefícios

A capacidade de ter empatia, ou colocar-se no lugar do outro tem inúmeros benefícios, contribuindo nas relações entre casais, pais e filhos, irmãos, empresa e colaborador, amigos, entre outros, e tem o poder de transformá-las.

Empatia e Psicologia

Colocar-se no lugar no outro, não é como você se sentiria, faria ou decidiria no lugar dele de acordo com suas premissas. Nada tem a ver com ser sinestésico ou ter as mesmas sensações físicas ou emocionais ou energéticas da outra pessoa.

Ter empatia é buscar compreender a individualidade e os motivos que a outra pessoa tem para estar agindo naquele momento daquela determinada maneira, conforme os resultados de suas experiências, do contexto de vida e da constituição de sua subjetividade . É estar em prol da compreensão que cada pessoa realiza diferentes interpretações e percepções sobre um mesmo fato.


Para a Psicologia Cognitiva as interpretações dependem da fase de vida, das experiências parentais e com seus pares e dos padrões de pensamento, e modos de enfrentamento e de mecanismos de defesa inconscientes que foram se formando como forma protetiva ao longo de suas experiências. Cada pessoa tem distintos valores, sonhos, desejos, receios, crenças e podem ter aprendido a reagir conforme o que dela era esperado naquela cultura. Ter empatia é ser capaz de flexibilizar o seu ponto de vista, pois nem todos reagirão a um estimulo da mesma forma que você. É a capacidade de se preocupar com o outro.

Quando você expande sua mente, amplia sua visão de mundo e consegue ouvir e compreender a individualidade das pessoas você pode aprender com elas e conhecer novas possibilidades e ainda abrir um canal maior de comunicação entre vocês. Sua comunicação poderá ser mais assertiva e eficaz, e os resultados muito mais fáceis de se alcançar.

No entanto infelizmente não são todas as pessoas que tem essa capacidade aprendida por modelos no meio em que vivem. A empatia também depende de fatores intelectuais e culturais em comum entre os envolvidos. No entanto é possível sim desenvolve-la se houver predisposição consciente e motivação evolutiva.

Empatia e Neurociência

Na área da neurociência a empatia é vista como uma resposta neurológica provinda de circuitos elétricos, Teoria do Neurônio Espelho, capazes de simular atos motores e expressões faciais e para alguns cientistas tem a Teoria da Mente, capacidade de realizar inferências ou percepções sobre o estado mental de outros, além de interpretações automáticas e evidências de emoções expressivas, como sua precursora.

O conceito de empatia, pode ser explicado pela teoria do neurônio espelho, explicada por Giacomo Risolati, onde o cérebro possui a capacidade de simular atos motores semelhantes ao de outro. A capacidade biológica de neurônio espelho teria sido originada com a função de preservação da espécie, para perceber a necessidade de identificar se um ser da mesma espécie estaria em uma situação de perigo e então poder protege-lo, acolhe-lo e oferecer-lhe ajuda, a fim de preservar a coletividade do grupo e as funções de cada um do sistema.

Do ponto de vista elétrico, uma região cerebral responsável por um determinado movimento corporal é capaz de mudar seu estado elétrico ao captar do exterior a mesma estimulação do exterior. Assim se você vê uma pessoa mexendo o braço esquerdo, a área do seu cérebro responsável por esse movimento é ativada te levando a fazer o mesmo movimento. Ou como exemplo, desde o nascimento, os bebês reagem com berros e lágrimas ao desconforto de outra criança. Essa reação afetiva dos bebês é conhecida como choro contagioso (Simner, 1971) e é considerada um precursor vicário importante da empatia. Ainda os bocejos, espirros entre outros atos motores e expressões fisionômicas podem ser simulados pelo cérebro. Marco Iacoboni e Itzak Freck estudaram epilepsias do lobo frontal com implante de eletrodos e foram capazes de constatar a simulação de expressões faciais. Assim ao perceber uma cena triste a região límbica é ativada como se o que estivesse ocorrendo fosse consigo mesmo.

Hoje se sabe após muitas comprovações científicas, entre elas as descobertas de James Papez, responsável pela descoberta do Circuito de Papez, em 1937, que as emoções, afetos e sentimentos não existem em uma área anatômica e específica mas são produzidas por todo um sistema anatômico e bioquímico, chamado de sistema límbico, responsável por criar reações emotivas e sentimentais nas criaturas mamíferas. Sem contar que também contribui às funções de memória afetiva, e aspectos de identidade pessoal. As áreas desse sistema responsáveis pelas emoções, afetos e sentimentos seriam áreas do córtex cingulado que determinam antes das outras áreas a experiência da emoção, encaminham ao hipocampo e este, por sua vez, ao hipotálamo. Os impulsos hipotalâmicos chegam ao córtex pele relé no núcleo talâmico anterior, liberando muitos neurotransmissores. O hipocampo, está ligado com os fenômenos da memória afetiva e emocional. E a amígdala, que possui papel vital para a preservação pessoal de um indivíduo, já que é o centro de identificação de perigo e conduz e controla as ações emotivas de ordem elevada, como a afeição, amizade ou o amor.

Teorias evolucionistas e sociais

De acordo com conceitos evolucionistas, evolução biológica por seleção natural, organismos com características favoráveis a adaptação, sobrevivência e perpetuação vão se reproduzir mais. Não apenas características físicas ou sensoriais, para se adaptar ao ambiente, como o casco da tartaruga, a rapidez de alces, mas também o desenvolvimento de percepções emocionais necessárias a perpetuação da espécie, não somente em si, mas entre os indivíduos de um mesmo clã, afim de protege-los, pois, grupos são mais fortes por suas funções colaborativas do que individualidades. Também ocorre a seleção natural das emoções pelo cérebro, como forma de reconhecer e evitar situações que não sejam favoráveis a vida (a reprodução, aos cuidados com as crias), como o medo, o nojo, a tristeza; de modo que essas emoções não poderiam ser por si só negativas ou positivas pois tem uma finalidade maior em si mesmas.

Empatia e representação simbólica

A nível de seres humanos, podemos falar muito além de estímulos sensoriais, imitações e percepções de objetos no primeiro ano de vida. Existe na sequência, segundo Jean Piaget a necessidade de representação simbólica, a qual é essencialmente, uma capacidade cognitiva que habilita o ser humano a interpretar o mundo exterior e interior e, em consequência, atuar de uma forma social, seja mais primitivamente nos primeiros anos de vida, seja mais evolutivamente, com o passar do tempo. Segundo Piaget, no período pré-escolar, a criança não diferencia os estados mentais dos estados físicos, somente após esse período terá suas capacidades representacionais desenvolvidas para posteriormente desenvolver à habilidade brincar de forma cooperativa, e interagir socialmente além de seus próprios interesses, compreender regras, e ter ajustamento escolar.

Por isso desde criança é preciso desenvolver a empatia. Pesquisas apontam que crianças que desenvolvem a preocupação com o outro, a pró sociabilidade, o comprometimento social além da conquista de gratificações imediatas em prol de si mesmas, são muito menos propensas a desenvolver transtornos de conduta e de oposição, pois estarão abrindo mão de olhar apenas para a satisfação das próprias necessidades, flexibilizando seus interesses, abrindo mão de desejos negóicos e se responsabilizando socialmente ao invés de fazerem por obrigação ou disciplina.

O Papel Social

O papel da experiência social e cultural será essencial, complementa Vygotsky. Particularmente a influência das conversações entre pais e filhos na transformação da experiência pré-reflexiva de estados mentais por crianças pequenas para a compreensão reflexiva desses estados. Explicações como: "Fulano não sabia que tu querias tal brinquedo", "Não era sua intenção..." são oferecidas no cotidiano da criança. Sob esse ponto de vista, as crianças nunca desenvolveriam o conceito de estados mentais sem pertencer a uma cultura.

À medida que a criança adquire está “linguagem da sua mente e da mente dos outros” e torna-se mais capaz de compreender de que forma diferentes estados mentais influenciam o comportamento humano, ela vai sendo incorporada como um membro efetivo de uma comunidade de mentes (Nelson, 2007).

A produção das respostas comportamentais esperadas, ou o fracasso dessa produção estão não só ligados a capacidades neurológicas evolucionistas de processar a informação sobre si ou sobre as experiências externas mas à capacidade de compreender os estados mentais e as intenções alheias, ou seja fazer inferências mentais sobre o que se imagina que estejam esperando, pensando, sentindo, desejando. Assim os membros de uma comunidade, atribuem pensamentos, crenças e desejos a outras pessoas e declaram seus próprios, além do automatismo vicário de interpretar emoções faciais ou comportamentais.

Desse modo se constituiria no ser humano, com base em suas experiências sociais e culturais transmitidas, uma previsão do comportamento de outros, apoiada por uma crença individual ou cultural do que aquela situação desencadearia. Com base nessas previsões, a pessoa regularia seu próprio comportamento. Essa capacidade de compreender, explicar e predizer o comportamento humano em termos de estados mentais, tem sido convencionalmente chamada de teoria da mente e pode estar relacionada com a capacidade de empatia.

De acordo com alguns estudos existem também fatores específicos para que essa empatia ocorra além de um funcionamento neurológico típico. É preciso que haja uma semelhança intelectual, moral e principalmente cultural. Assim sempre existirão os que conforme a interpretação intelectual e cognitiva do meio que cresceram, não conseguirão compreender as demais pessoas. Porém isso não é irreversível, é possível o aprendizado se houver disposição. Do contrário pela lógica evolucionista, tenderão apenas a sua autopreservação, foco nas suas próprias defesas e não na coletividade do grupo ou propagação da própria espécie, uma vez que melhor se propaga o que melhor se adapta.

Como ser empata

Se você não teve um modelo social que te ajudou a desenvolver essa habilidade, não é problema. Há algumas dicas que vão te ajudar!

· Procure abrir sua mente e ampliar seus pontos de vista. Nem todos pensam ou agem da mesma forma frente a uma mesma situação. Fatos são diferentes de realidade. A realidade é subjetiva, é o produto do fato versus a interpretação.

· Converse com pessoas de pensamentos e ideias diferentes das suas e identifique custos e benefícios, vantagens e desvantagens de pontos de vistas diferentes.

· Análise o contexto de vida e da cultura da outra pessoa.

· Pratique a escuta ativa, o que a pessoa tem a dizer, mais do que fale. Nem sempre é possível você fazer um discurso, apenas se mostra disponível.

· Observe e procure identificar o que a pessoa precisa ou quer naquele momento com aquele comportamento e converse a respeito do que você está entendendo sem afirmativas, ou acusações ou autodefesas.

· Mostre que você está ali, se importa e a disposição para quando a pessoa precisar conversar.

· Seja modelo de comportamento para suas próximas gerações poderem se adaptar e se sobressair.

“Nós compreendemos o outro porque temos dentro de nós a mesma experiência”

Merleau Ponty

Fonte: THEORY OF MIND, EMPATHY AND PROSOCIAL MOTIVATION IN PRESCHOOL CHILDREN Gabriela Pavarini* Débora de Hollanda Souza#

TERAPIAS COGNITIVOS COMPORTAMENTAIS– WAINER Ricardo

Revista Psicanálise Clínica- fev/2020

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