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  • Foto do escritorKarla Fabiana Benthien Potier - Psicóloga

Tristeza e Depressão


Atualmente estamos vivendo um choque de realidade, causado pela Pandemia COVID 19, devido a perdas de entes próximos, aumento de restrições pelo isolamento social, limitações de acesso a espaços públicos, escassez econômica devido ao desemprego ou fechamento de estabelecimentos comerciais e industriais, bombardeio de informações e ambiguidades, desgastes políticos gerando descrédito. Um efeito dominó desencadeando fortes reações emocionais (medo, tristeza,raiva), cognitivas e comportamentais ligadas a sobrevivência e subsistência como saúde, trabalho, profissão, alimentação, educação.


A crise gerada pela COVID 19, gerou uma ruptura no sistema externo e sua consequência desestabilizou sistemas intrapsíquicos ameaçando necessidades básicas de vida de toda população mundial, como relações pessoais, vínculos afetivos, autonomia, independência, poder de escolha e de decisão, desempenho de funções e papeis sociais, produtividade, segurança, acolhimento, pertença, prazer, lazer entre outras. Trazendo mais do que tristeza, sentimento de desesperança, desamparo, rejeição, menos valia, baixa autoestima entre outros.


Com essa avalanche, a probabilidade é de aumentar casos de doenças psicossomáticas e de transtornos psiquiátricos, entre eles a depressão. Uma vez que o alto índice de ansiedade, estresse e mudança brusca de condições financeiras e desemprego, são considerados fatores de risco de depressão.

Na visão da psicologia cognitivo comportamental, segundo a teoria do Desamparo Aprendido de Martin Selligman, os sentimentos de derrota e fracasso, frente a acontecimentos incontroláveis, onde qualquer tentativa de alcançar êxito e sucesso é vã, podem gerar um comportamento de desistência ou de desamparo aprendido. O que se assemelha a um comportamento deprimido, o qual envolve mais do que a tristeza o sentimento de falta de capacidade, derrota, perda irreparável e impotência. Se essa crença de que seus atos são inúteis e esses sentimentos permanecerem por um longo tempo aliados a outros fatores poderá haver uma grande predisposição ou um quadro clínico de depressão.


Nesse último, se 5 dos 9 critérios mencionados a seguir permanecerem por no mínimo 3 meses:

· Baixa energia em todas as atividades

· Senso de inutilidade

· Culpa

· Alteração do sono, do apetite e do humor

· Capacidade reduiza de raciocínio

· Falta de concentração

· Ruminação de fatos

· Falta de interesse por atividades antes habituais

· Desatenção

Segundo a psicologa positiva – Barbara Freiderickson – o sentimento de falta de importância, de orgulho por si mesmo, ou a visão negativa das próprias competências frente ao mundo, a desesperança e a falta de futuro estão muito mais ligados a depressão do que a própria tristeza. A tristeza na depressão muitas vezes nem a aparece pela própria anedonia, falta de prazer e também diminuição de quaisquer tipos de emoções, sejam elas agradáveis ou desagradáveis.

O foco na falta e no vazio, levam as pessoas a se sentirem sem segurança e a não ter gratidão. Segundo ela se as pessoas começarem um exercício de reconhecer as pequenas coisas pelas quais ser grato , focarão no que possuem ou são, poderão sentir-se mais seguras e capazes e fazer um movimento de potencialização de si mesmas.

A diferença entre tristeza e depressão

A tristeza é uma emoção, que ocorre por fatores externos como perdas, separações, mortes, lutos, desemprego enfim frente a algum evento ou fato negativo em nossas vidas ou com pessoas com quem nos importamos. Ficar triste faz parte da vida, todas as pessoas vão passar por episódios de tristeza, isso é natural, porém a tristeza tem duração limitada e quando ficamos tristes isso não impede de enxergamos coisas boas em nossas vidas. A tristeza pode ou não fazer parte de um quadro depressivo.

“A depressão caracteriza-se como um fenômeno interno do individuo, que possui diversos outros sintomas e tem uma duração maior. Ela costuma afetar a pessoa por mais de 15 dias e vem acompanhada de desânimo, falta de interesse generalizado (por coisas e pessoas), altera o sono e o apetite, causa apatia, sentimento de vazio, de desamparo e prejudica o funcionamento da vida em várias áreas: profissional, relacionamentos, familiar e social.”


Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a depressão é um problema médico grave e altamente prevalente na população em geral.

A Depressão é uma doença mental de elevada prevalência e é a mais associada ao suicídio, tende a ser crônica e recorrente, principalmente quando não é tratada. A depressão é diferente de um comportamento deprimido ou de melancolia. É uma doença, referente a perda de interesse em atividades diárias, prejudicando significativamente o dia a dia, sendo muito importante conhecer seus sintomas desde o início para facilitar o diagnóstico e o tratamento.


Epidemiologia


De acordo com estudo epidemiológico a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Segundo a OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico.

De acordo com a OMS, a depressão situa-se em 4º lugar entre as principais causas de ônus, respondendo por 4,4% dos ônus acarretados por todas as doenças durante a vida. Ocupa 1º lugar quando considerado o tempo vivido com incapacitação ao longo da vida (11,9%).

A época comum do aparecimento é o final da 3ª década da vida, mas pode começar em qualquer idade. Estudos mostram prevalência ao longo da vida em até 20% nas mulheres e 12% para os homens.

Segundo especialistas americanos, as mulheres são mais propensas a sofrer com depressão devido ao fato da tendência de ruminarem mais emocionalmente os fatos, analisarem emocionalmente, terem um trabalho de casa que muitas vezes é visto como uma obrigação e não como uma satisfação ou escolha, , terem profissões ou salários incompatíveis ou ações menos enaltecidas e reconhecidas, e ainda deslocadas de posição e poder. No entanto a depressão entre homens tem aumentado significativamente, principalmente devido a possibilidade do desemprego que ameaça a sua produtividade, em nossa cultura muito ligada a virilidade é poder. Porém os mesmos tendem a embotar, seus sentimentos e reagir de forma diferente das mulheres o que pode mascarar e retardar a percepção dos sintomas.

Causas da depressão


Genética: estudos com famílias, gêmeos e adotados indicam a existência de um componente genético. Estima-se que esse componente represente 40% da suscetibilidade para desenvolver depressão;

Bioquímica cerebral: há evidências de deficiência de substancias cerebrais, chamadas neurotransmissores. São eles Noradrenalina, Serotonina e Dopamina que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do humor;

Eventos vitais: eventos estressantes podem desencadear episódios depressivos naqueles que tem uma predisposição genética a desenvolver a doença.


Fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento da depressão:


· Histórico familiar;

· Transtornos psiquiátricos correlatos;

· Estresse crônico;

· Ansiedade crônica;

· Disfunções hormonais;

· Dependência de álcool e drogas ilícitas;

· Traumas psicológicos;

· Doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, neoplasias entre outras;

· Conflitos conjugais;

· Mudança brusca de condições financeiras e desemprego.


Sintomas da depressão


Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir prazer ou alegria. Tudo parece vazio, o mundo é visto sem cores, sem matizes de alegria. Muitos se mostram mais apáticos do que tristes, referindo “sentimento de falta de sentimento”. Julgam-se um peso para os familiares e amigos, invocam a morte como forma de alívio para si e familiares. Fazem avaliação negativa acerca de si mesmo, do mundo e do futuro. Percebem as dificuldades como intransponíveis, tendo o desejo de por fim a um estado penoso. Os pensamentos suicidas variam desde o desejo de estar morto até planos detalhados de se matar. Esses pensamentos devem ser sistematicamente investigados;

Retardo motor, falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo, lentificação do pensamento, falta de concentração, queixas de falta de memória, de vontade e de iniciativa;

Insônia ou sonolência. A insônia geralmente é intermediária ou terminal. A sonolência está mais associada à depressão chamada Atípica;

Apetite: geralmente diminuído, podendo ocorrer em algumas formas de depressão aumento do apetite, com maior interesse por carbohidratos e doces;

Redução do interesse sexual;

Dores e sintomas físicos difusos como mal estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito, taquicardia, sudorese.

Evidências comportamentais: retraimento social, crises de choro, comportamentos suicidas, Retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora.

Diagnóstico


O diagnóstico da depressão é clínico, feito pelo médico após coleta completa da história do paciente e realização de um exame do estado mental. Não existe exames laboratoriais específicos para diagnosticar depressão.


Subtipos de Depressão:

Distimia: É um quadro mais leve e crônico. As alterações estão presentes na maior parte do dia, todos os dias, por, no mínimo, dois anos. Podem ocorrer oscilações, mas prevalecem às queixas de cansaço e desânimo durante a maior parte do tempo. Geralmente, se mostram como pessoas excessivamente preocupadas, que apresentam um sentimento persistente de preocupação. As alterações de apetite, libido e psicomotoras não são frequentes, é mais comum sintomas como letargia e falta de prazer pelas coisas que antes eram prazerosas. Na maioria dos casos, se inicia na adolescência ou no princípio da idade adulta;

Depressão endógena: Caracteriza-se pela predominância de sintomas como perda de interesse ou prazer em atividades normalmente agradáveis, piora pela manhã, falta de reatividade do humor, lentidão psicomotora, queixas de esquecimento, perda de apetite importante e perda de peso, muita desanimo e tristeza;

Depressão Atípica: Apresenta uma inversão dos sintomas: aumento de apetite e/ou ganho de peso, dificuldade para conciliar o sono ou sonolência, sensação de corpo pesado, sensibilidade exagerada à rejeição, responde de forma negativa aos estímulos ambientais;

Depressão Sazonal: Caracteriza-se pelo início no outono/inverno e pela remissão na primavera, sendo incomum no verão. A prevalência é maior entre jovens que vivem em maiores latitudes. Os sintomas mais comuns são: apatia, diminuição da atividade, isolamento social, diminuição da libido, sonolência, aumento do apetite, “fissura” por carbohidratos e ganho de peso. Para diagnóstico esses episódios devem se repetir por dois anos consecutivamente, sem quaisquer episódios não sazonais durante esse período;

Depressão psicótica: É um quadro grave, caracterizado pela presença de delírios e alucinações. Os delírios são representados por ideias de pecado, doença incurável, pobreza e desastres iminentes. Pode apresentar alucinações auditivas;

Depressão secundária: Caracterizada por síndromes depressivas associadas ou causadas por doenças medico-sistêmicas e/ou por medicamentos;

Depressão Bipolar: A maioria dos pacientes bipolares inicia a doença com um episódio depressivo, enquanto mais precoce o início, maior a chance de que o indivíduo seja bipolar. História familiar de bipolaridade, de depressão maior, de abuso de substâncias, transtorno de ansiedade, são indícios de evolução bipolar.


Tratamento


O tratamento é medicamentoso e psicoterápico. A escolha do antidepressivo é feita com base no subtipo da Depressão, nos antecedentes pessoais e familiares, na boa resposta a uma determinada classe de antidepressivos já utilizada, na presença de doenças clínicas e nas características dos antidepressivos. 90-95% dos pacientes apresentam remissão total com o tratamento antidepressivo.

É de fundamental importância a adesão ao tratamento, uma vez interrompido por conta própria ou uso inadequado da medicação, pode aumentar significativamente o risco de cronificação..


Prevenção


Do ponto de vista médico seguem algumas medidas de prevenção:

1. Manter um estilo de vida saudável:

2. Ter uma dieta equilibrada;

3. Praticar atividade física regularmente;

4. Combater o estresse concedendo tempo na agenda para atividades prazerosas;

5. Evitar o consumo de álcool;

6. Não usar drogas ilícitas;

7. Diminuir as doses diárias de cafeína;

8. Rotina de sono regular;

9. Não interromper tratamento sem orientação médica.

Do ponto de vista da psicologia para lidar com a depressão ou evitar um comportamento deprimido há alguns passos básicos que devem ser seguidos:


1- Reconhecer que a depressão pode ser superada e você é capaz de vence-la com ajuda especializada.

2- Você é importante e tem uma missão, um propósito de estar vivo! Busque experienciar o que vive e não apenas passar pelas experiencias de forma automatica. Procure focar e descobrir o que te faz bem e faça! Acredite em si mesmo. Você é capaz!

3- Não lute contra o que você sente, não reprima e não tenha aversão a si mesmo.

4- Busque uma relação de apoio seguro com alguém de sua confiança e que lhe inspire como modelo de superação. Escolha um ego auxiliar!

5 - Expresse verbalmente o que sente, falando ou escrevendo, a organização do pensamento pela fala ativa áreas do neo córtex cerebral, responsáveis pela linguagem, desviando o foco do sistema límbico.

6- Fale de suas emoções consigo mesmo (self-talk) de modo que consiga expressar o que sente. Elogie-se em voz alta: eu posso, eu consigo, eu me amo, me valorize e me respeito.

7- Exercite a gratidão pelas pequenas coisas. Isso faz você reconhecer que é, possui dons, capacidades, potenciais e parar de vibrar na falta e na impotência.

8- Para evitar o desânimo e a ociosidade faça uma lista do que fazer, passo a passo, e se disponha a cumprir mesmo se não houver vontade. Assim que você começar seu corpo sairá da inércia e você ficará mais ativo.

9- Pratique meditação diariamente. Comece com o treino da respiração por 3 minutos. Exercícios que desenvolvam a atenção focada como Yoga, Tai Chi Chuan também ajudam a focar-se no momento presente, no seu corpo, e diminuir a ruminação de problemas do passado ou futuro.

10- Faça exercícios físicos aeróbicos para trabalhar a liberação natural de endorfinas, dopamina e serotonina, responsáveis pelo bem-estar.

11-Tenha uma alimentação saudável. Coma frutas, legumes, grãos. Evite doces, gordura trans. e álcool em excesso. Beba muita agua.

12-Ame! Ajudar o próximo faz você sentir-se útil, com um propósito na vida, além de seu próprio ego.

13-Busque seu melhor, na sua essência e compartilhe. Fazer o bem faz bem!


14- Busque um profissional da saúde, mesmo que online.

Não se esqueça de compartilhar esse post para ajudar cada vez mais pessoas.

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